FAMÍLIA: Uma simples palavra. Será?
- Rosana Principato Louro
- 19 de mai. de 2021
- 3 min de leitura
Sou de uma família pequena, cinco pessoas. Inicialmente, meu pai, minha mãe, eu e meus dois irmãos mais novos. Mas ela começou muito lá atrás. Meu pai, já falecido, era italiano e tinha três irmãos. Minha mãe, filha de italianos, tinha oito. Fui conhecer a família do meu pai muito tempo após ele ter morrido. Agora, do lado materno, ah!!! Lindas e boas lembranças. Tristes também.
A palavra família, para mim, acredito eu, sempre teve o sentido de união, de porto seguro, de um lugar onde os pais têm como tarefa primordial amar, educar e preparar os filhos para o mundo.
Essa que descrevi no primeiro parágrafo deste texto refere-se a minha “linhagem”, um grupo de pessoas com ancestralidade comum, com grau de parentesco pela consanguinidade. Porém o conceito vai além das ligações de sangue, pois podem ser pessoas ligadas por casamento, filiação, mas por adoção. Primeiro dos significados da palavra família de acordo com o dicionário Houaiss. De acordo com o mesmo dicionário, ela pode ter vários outros sentidos.

Estes sentidos são figurados, ou seja, foram sendo atribuídos pela semelhança da condição dos grupos. Estes unidos por convicções ou interesses como, por exemplo, espiritual ou ideológico; por possuírem características e propriedades comuns. Enfim, qualquer grupo que se una com uma mesma característica física ou ideológica pode ser considerado uma família.
Teria a família perdido o sentido primeiro, tão importante, que é a formação de um indivíduo? Talvez sim. Mas não porque seja uma instituição falida como algumas pessoas fazem questão de declarar em alto e bom tom. Talvez seja porque estejamos vivendo um momento de total liquidez nos relacionamentos, como afirma o grande sociólogo polonês Zigmunt Bauman, um momento no qual estejamos mais preocupados em “estar alguém” e “não ser alguém”, em “ter algo para ser”. Está aí outra diferença pouco compreendida neste mundo tão volátil.
No meu mundo de criança até minha adolescência, esta volatilidade não existia, pois me sentia muito feliz em ter uma família que se reunia para os almoços de domingo, o passeio mais importante da semana, além da missa. Os adultos ficavam reunidos na cozinha enquanto nossas mães e a nona cozinhavam e arrumavam a grande mesa. As crianças, eu e meus primos, inventávamos as brincadeiras e brigávamos de vez em quando, lógico, mas logo passava. Não éramos ricos, pelo contrário, filhos de costureiras, sitiantes, mecânicos, agricultores, entre outras profissões ou atividades, consideradas pela elite, mais simples. Éramos, sim, criativos e muito felizes, tínhamos uma família na essência do seu significado. Havia cumplicidade, confiança e amor. Eram-nos passados os valores éticos, morais e sociais os quais nos alicerçaram. Lógico, crescemos e nos unimos a outras pessoas com outros ou iguais valores e fomos formando outras famílias. A maioria seguiu com os mesmos valores, outros, porém, não.
Assim, vivemos outros tempos e vemos famílias se digladiarem por bobagens porque se esqueceram dos reais valores que as alicerçaram. Resultado de uma evolução e revolução do mundo, de uma sociedade líquida.
É óbvio que não podemos querer que o mundo fique sempre igual, mas a palavras “evolução humana” não deveriam desconstruir o que de bom há no homem, os seus valores, seus princípios, seus sentimentos e suas emoções positivas. Hoje, o que vemos, são pessoas centradas em si mesmas querendo ser o centro das atenções mesmo que para isto seja necessário ferir o seu próximo, seja ele pai, mãe, filho ou irmão, seja de qualquer grau de parentesco, seja a família de coração, os amigos... enfim... vivemos um individualismo capitalista de “estar” e não de “ser” quem realmente somos. A necessidade de satisfazer o próprio ego é mais forte.
O que posso dizer é que se a essência do alicerce da sociedade está se dissolvendo, o que podemos esperar da sociedade não será diferente.
As novas estruturas familiares estão para o futuro e devemos aceitá-la de braços abertos, independentemente de crença ou de religião, vivemos em tempos de aceitarmos o diferente daquilo que nos foi apresentado no começo de nossa civilização. Todavia, não nos esqueçamos da essência contida na palavra família.
Hoje, portanto, entendo não ser fácil manter os valores essenciais de uma família como aquela do passado, mas tenho a esperança de que eles não se percam e renasçam em cada coração daquele que ler este texto.
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